domingo, 15 de abril de 2012

O Misticismo Alquímico

Poucos foram os alquimistas que conseguiram atingir o nível da "Grande Obra", como é chamada a fase final do processo alquímico. A razão disto se prende às tremendas dificuldades encontradas na interpretação dos textos dos manuscritos, além daqueles inerentes ao processo em si que é extremamente moroso.

A interpretação dos textos é muito difícil porque os manuscritos foram todos escritos em linguagem velada, grande parte criptografada cabalisticamente.

Como em toda "ciência oculta" também na Alquimia os verdadeiros "adeptos" usaram uma forma de linguagem cifrada. Muitas vezes foi empregada a linguagem dos símbolos tornando assim ininteligíveis os manuscritos para os profanos por não disporem das "chaves" interpretativas.

Por serem escritos em linguagem velada os manuscritos alquímicos somente foram interpretados corretamente por poucos. Certos trechos das "vias alquímicas" somente um autêntico "adepto" tem condições de penetrá-los. Para um "adepto" é crime grave revelar claramente o grande segredo, exceto para uma pessoa que haja conquistado esse direito.

O candidato a "adepto", primeiro tem que decifrar os símbolos e a linguagem empregada para depois se lançar no trabalho propriamente, o qual exige uma paciência tremenda.

Muitos manuscritos foram redigidos em formas de linguagem cabalística, como dissemos, especialmente na forma Guimetria. Na língua Hebraica as letras têm valores numéricos que somados dão valores, também assim são as palavras. A Guimetria consiste da substituição de uma palavra por outra de igual valor numérico. Exemplo: A palavra U.R.S.S. tem o mesmo valor numérico da palavra SIRIA em hebraico. Desta maneira num escrito onde haja a palavras U.R.S.S. esta pode ser substituída por SIRIA. Utilizando-se este processo uma frase se torna um autêntico criptograma indecifrável para os não iniciados, ou peritos qualificados.

Outro processo, outra forma de registro utilizada pelos alquimistas foi o Notaricon. Este processo também é cabalístico e consiste em formar palavras com as primeiras letras de um nome e as últimas de outro, de um modo tal que somente para quem conheça a "chave" do processo é que o texto se torna claro.

Outras vezes os segredos são velados através de uma estória simples com duplo sentido, um dos quais somente pode ser interpretado por uns poucos elementos altamente dedicados. Somente esses laboriosos neófitos acabam por descobrir as "chaves" da interpretação. Este é o caso de um manuscrito de Philaléthe que tantos curiosos tentam compreender "A ENTRADA ABERTA AO PALÁCIO FECHADO DO REI".

Envolvendo coisas como a fabricação barata de ouro é natural que a Alquimia fosse uma arte muito cobiçada, combatida, e posta em dúvidas, mesmo pelos "adeptos" neste caso com a finalidade de afastar curiosos indesejáveis. A cobiça desenfreada e as consequências funestas que poderiam advir do domínio da Arte Sagrada se caísse mãos de inescrupulosos, fez com que os adeptos ao escreverem os métodos das deferentes vias o fizessem de uma forma que somente uns poucos indivíduos de grande perseverança e dedicação conseguissem dar continuidade indispensável àquela ciência. Foram exatamente as tremendas dificuldades que fez com que outra face da Alquimia fosse revelada, é o que veremos nesta palestra.

A maioria dos alquimistas indubitavelmente procurou a riqueza fácil graças à possibilidade da transformação do mercúrio em ouro, porém podemos afirmar que nenhum dos que assim pensou chegou à Grande Obra. Nenhum mero "curioso" se tornou "adepto". Quando muito chegaram à uma condição denominada de "soprador", como eram denominados muitos daquelas que se lançavam na pesquisa alquímica.

A luta encetada por um alquimista era, sem dúvidas, tremenda. Noites após noites na solidão de seus elementares laboratórios tentando com uma paciência de Jó atingir a Grande Obra. Repetiam seguidamente o mesmo processo meses e anos a fio. Naquela solidão o alquimista começava a evidenciar em si uma transformação lenta, porém progressiva, não só material, mas especialmente no mais íntimo do seu ser. Passo a passo, sem perceber ele ia conseguindo certa clareza mental. Nele ia despertando a Consciência Divina que reside em cada ser, objetivo máximo de todas as criaturas.

A Grande Obra surgia somente depois de muitos anos de tentativas, de concentração e de visualização. Aquele trabalho solitário acabava desenvolvendo as percepções superiores do alquimista. Depois de certo tempo de concentração e de dedicação iam-se abrindo as portas da percepção. Não apenas ao alquimista descobria os princípios básicos da transmutação dos metais, mas o que era mais fabuloso, conseguia transmutar a sua própria natureza.

É possível que o alquimista não descobrisse em princípio como transformar um metal comum em ouro por alteração da matéria provocada pelos sucessivos processos alquímicos. Não seria a transmutação provocada pelas passagens da substância por processos físicos. É possível que a mistura apenas funcionasse como um "suporte mágico" para a mente de o alquimista operar. Neste caso a mente sofreria uma abertura com a possibilidade de ação diretamente na vibração dos campos de energia constitutivo das partículas. A mente do alquimista era disciplinada a um ponto tal que se tornava capaz de provocar interferências vibratórias a um nível mais profundo do que o das partículas atômicas, e assim dirigidas pela Consciência Cósmica presente nela promoveria a transmutação.

O que acontecia de fabuloso era que abertas as portas das percepções do alquimista, antes mesmo da matéria sobre a qual operava sobre qualquer processo transmutatório, ele despertasse para uma condição mística profunda em que uma nova escala de valores surgia diante de si. Naquela luta incessante e dedicada, quando certo alquimista atingia a consecução da Grande Obra ele já não tinha a cobiça do valor pecuniário quanto no início, porque para ele a maior riqueza não era mais a do ouro, ele compreendia que a transmutação operada em seu âmago era muito mais valiosa do que aquela operada no metal. Para ele a maior riqueza passava a ser não aquela que o ouro era capaz de proporcionar mas aquela que se manifestava ao nível da sua natureza intrínseca. Quando surge a grande transformação alquímica da alma, tudo o mais se torna em importância.

Assim operava-se no alquimista a morte mística. A morte do ser preso às coisas materiais para um renascer de esplendor místico. Então é fácil compreender porque o laboratório alquímico se tornava um "sanctum", uma espécie de templo pessoal.

Eis porque Thomaz de Aquino disse na sua obra “Aurora Consurgens":

“A ALQUIMIA É O CAMINHO VERDADEIRO DA GLÓRIA DE DEUS".

Por tudo isto os "adeptos" autênticos jamais revelaram publicamente os segredos de sua obra.

Demonstravam-na algumas vezes, como aquele que visitou Van Helmont e Helvecius, mas nunca lhes ensinaram direta e claramente como conseguir a Grande Obra. Igualmente em decorrência da transmutação alquímica operada no ser nenhum adepto jamais fez uso indevido dos frutos de seu trabalho.

Muitos alquimistas deixaram escrito o processo, porém sob a forma de linguagem cifrada, de criptogramas, afim de que somente atingisse o alvo aqueles que tivessem a necessária perseverança durante tempo necessário para que antes ocorresse neles a transmutação interior; que primeiramente houvesse o despertar da Consciência em seu ser.

Outro ponto que ainda não nos referimos diz respeito ao "ELIXIR DA LONGA VIDA". Seria um dos frutos finais da Grande Obra, um produto capaz de prolongar de forma marcante, além de sanar todas as enfermidades. Mais uma vez a alquimia mística; este nível quando era atingido o adepto já chegara à fase final do trabalho alquímico quando para ele a vida física já não tinha aquele mesmo sentido de antes, ela era importante apenas como um meio para o desenvolvimento espiritual.

Como se pode ver, havia por trás da Alquimia coisas que a levaram a ser utilizada como um processo místico para o despertar da Consciência maior.

A Alquimia funcionava como um dos sistemas capaz de alterar a vibração da mente e consequentemente para penetrar em outras realidades, em outros universos relativos, tal como nos demais sistemas místicos e mágico-religiosos.

Há por detrás da Alquimia uma profunda possibilidade de um despertar para as verdades maiores, razão pela qual ela logo foi utilizada como filosofia capaz de despertar condições metafísicas maravilhosas. Estribado nesta filosofia foram criadas as “Sociedades Secretas Alquímicas" na Europa. Durante muito tempo aquelas sociedades fraternas foram independentes, porém depois do Século XIV os alquimistas seriam geralmente ligados a outros sistemas místicos, muitos deles foram dirigentes de ordens Iniciáticas. No século XII quase todos os alquimistas eram Hermetistas especialmente Rosacruzes.

Escrito por JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO

Nenhum comentário:

Postar um comentário